Criatividade litúrgica
A Liturgia acontece e se realiza concretamente na celebração com uma assembléia, por isso seria equívoco reduzi-la a textos e a normas, mesmo sendo parte da legislação litúrgica. A “actio liturgica” é a Liturgia em ato, na sua forma natural de acontecer e de ser celebrada. Por isso dizemos que a Liturgia pertence mais ao fazer, configurada na fala, no ouvir (silêncio), em gestos, em símbolos e sinais, espaços... que às prescrições para que seja bem celebrada. As normas litúrgicas — e disto a sua importância — servem para organizar e orientar a atividade litúrgica e garantir a ortodoxia da fé da Igreja nas celebrações. Em outras palavras, a Liturgia pertence à Igreja e é celebrada como Igreja. Não é uma atividade subjetiva ou pertencente a um grupo.
Neste contexto é possível considerar aquilo que se denomina de “criatividade litúrgica”. Termo nem sempre compreendido e bem utilizado em nossas comunidades.
A criatividade litúrgica não se situa na criação da novidade que impressiona ou é usada unicamente para provocar emoções na linha do sentimentalismo. Criativo, no contexto teológico e na Pastoral da Liturgia, não é aquele que inventa moda nas celebrações, agindo individualmente, fundamentando-se na teoria de “o povo gosta”. A criatividade litúrgica tem a finalidade de ajudar a celebrar melhor para conduzir os celebrantes ao encontro de Deus e ao compromisso com o seu projeto divino. Por isso, a “criatividade litúrgica”, como a Igreja a entende, requer conhecimento profundo da Teologia Litúrgica. Criatividade não combina com infidelidade às normas litúrgicas e nem aborrece a assembléia com encenações, ritos exóticos, cantorias e excesso de símbolos. A criatividade na Liturgia jamais extrapola, ao contrário, sempre favorece a oração e a compreensão do que se celebra.
A criatividade litúrgica não se preocupa em “inventar para atrair” e para agradar os celebrantes, mas em se servir da palavra, da música, dos gestos, do silêncio... de todo o processo da comunicação litúrgica, em suma, para favorecer nos celebrantes a sintonia com Deus, em clima de oração e, para isso, não se serve de linguagens conotativas do teatro, de palestras intermináveis, de shows e de outros pendulicários.
Serginho Valle
Abril de 2019