Liturgia, fonte da fé
Já tratei desse tema aqui no meu blogger, mas considero relevante voltar a falar sobre a Liturgia como fonte da fé e, em consequência disso, fonte da vida cristã. Uma das funções primárias da Liturgia é construir, alimentar e animar a Igreja viva, formada por pessoas que iluminam suas vidas na fé em Jesus Cristo. Não existe nada de novo nisso, uma vez que se trata de uma proposta presente na Tradição litúrgica da Igreja. Uma bela inspiração Bíblica, a este propósito, encontra-se no encontro de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 21,13-35). Naquele episódio, Jesus celebra com os dois os discípulos a partilha da Palavra e do pão para alimentar neles a fé na sua Ressurreição. Cada celebração, portanto, inspirando-se em Emaús, é encontro com o Senhor e cada encontro com o Senhor, na celebração, é fonte de vida nova na fé.
Tal realidade da Liturgia não pode se limitar, evidentemente, a uma fé que reside unicamente no emocional e no sentimento. Tanto o emocional e o sentimento são importantes. De fato, os discípulos de Emaús ficaram emocionados ao celebrar a fractio panis com Jesus e seus sentimentos foram partilhados com os demais Apóstolos porque seus corações ardiam. Depois da emoção e do sentimento, a atividade: não pensaram no cansaço da caminhada e nem se permitiram dormir para na manhã seguinte ir contar aos seus amigos os aconteceu com eles; na mesma hora levantaram-se e foram a Jerusalém. A exegese considera esta dinâmica como uma proposta dinamizadora da evangelização: partilham a Palavra e o pão na celebração com Jesus e, depois, partilham a Palavra e o pão na vida, contanto a todos o que sucedeu em suas vidas, na celebração, com a presença do Senhor ressuscitado.
A celebração litúrgica como fonte da fé manifesta-se no testemunho evangelizador. Não a fá reduzida a simples crença, mas a fé testemunhada, que faz, que impulsiona a caminhar e a partilhar a experiência do encontro com o Senhor na Liturgia celebrada.
Existe, contudo, uma condição para isso acontecer: que as celebrações sejam liturgicamente celebradas. Celebrações capazes de equilibrar a emoção, o sentimento e o compromisso. Nossas celebrações – e aqui não penso unicamente na Eucaristia – não podem ser instrumentalizadas unicamente em um único aspecto e animadas unicamente num viés: só o emocional ou só o sentimental ou unicamente o compromisso existencial e social. Existe a necessidade de se emocionar na celebração, necessidade que a celebração toque os sentimentos e, necessidade que a celebração comprometa. Compromisso que, às vezes, é pessoal, outras vezes é comunitário, em algumas vezes, familiar, e assim por diante. Compromisso que seja manifestação da fé na vida nova, celebrada na Liturgia e semeada pelo testemunho de vida.
A interconexão dos três aspectos irá formar celebrações fontes da fé. Neste aspecto, considero louvável tantas iniciativas celebrativas realizadas em muitas comunidades com a finalidade de prolongar as celebrações,especialmente a Eucarística, em momentos orantes comunitárias, como por exemplo, de adoração silenciosa ao Santíssimo, Horas Santas, celebrações de bênçãos, celebrações penitenciais, Liturgia da Palavra na pedagogia da Lectio Divina, valorização de Tempos Fortes da Liturgia, especialmente na Quaresma e no Advento, mas também no Tempo Pascal e no Tempo Natalino.
As inspirações que vêm da Liturgia para fazer crescer a fé em nossas vidas são inúmeras e são fonte de criatividade existencial, especialmente importante, em momentos de crise e de conflitos. Não se pode, por isso, limitar-se unicamente a celebrações dos Sacramentos. A própria Liturgia inspira celebrar a vida de outras formas e com tantos outros ritos em vista de fomentar a fé e, com isso, alimentar a espiritualidade dos celebrantes.
Serginho Valle
Agosto de 2019