Artigos Serginho Valle


A Missa bonita

“Missa bonita”

Em tempos de redes sociais, frequentemente encontramos anúncios com um apelo para participar de "Missas bonitas", ou com outros adjetivos, que sugerem relação com o espetáculo que, neste caso, tem a ver com o emocional religioso. Logo de início, preciso dizer que não vejo nada de errado nisso. Devemos, sim, celebrar bem e celebrar bonito.

Mas o que realmente define uma "“Missa bonita”"? Mais que propor respostas, gostaria de convidar você a explorar essa questão, analisando os elementos, considerando aquilo que torna a celebração Eucarística verdadeiramente significativa e espiritualmente enriquecedora. Quer dizer, aquilo que torna a "“Missa bonita”".

O conceito de “Missa bonita”
A primeira coisa que precisamos considerar é que a beleza de uma Missa não reside em sua apresentação espetacular, com padres cantando e atuando como animadores de auditório ou com grupos musicais de sucesso. O ministério da presidência na celebração Eucarística não se configura como animador, nem como animador de celebração e, muito menos, como animador de auditório. O ministério da celebração, na Eucaristia e em todas as celebrações litúrgicas, se rege pelo princípio do serviço de conduzir os celebrantes a participar do Mistério Pascal celebrado na Missa.

Com tal característica ministerial, ao contrário de entender por "“Missa bonita”" aquela celebração repleta de atrativos, uma "“Missa bonita”" é caracterizada por um clima de contemplação e oração, condições para se ter uma participação plena, ativa e consciente no Mistério celebrado (SC 14). A “Missa bonita” é aquela que proporciona um espaço onde os fiéis podem silenciar e ouvir a voz de Deus através da proclamação da Palavra e de momentos de oração pessoal. A união entre oração assemblear (comunitária) e a oração pessoal favorece a beleza da Missa; torna a “Missa bonita”.

Ritmo e equilíbrio na celebração
Outro elemento que torna a “Missa bonita” tem a ver com ritmo e equilíbrio. A celebração da Missa, do ponto de vista comunicativo, tem um ritmo calmo e equilibrado, isto significa celebrar sem pressa e sem excessos de discursos, símbolos, sinais e canções. Tudo que é exagerado cansa e, no caso da comunicação litúrgica da Missa, cansa e distrai. Por isso, a ponderação marcada pela simplicidade e pela brevidade da celebração. Vale a orientação da Sacrosanctum Concilium neste particular: “brilhem os ritos pela sua nobre simplicidade, sejam claros na brevidade e evitem repetições inúteis; devem adaptar-se à capacidade de compreensão dos fiéis, e não precisar, em geral, de muitas explicações” (SC 34). “Missa bonita”, em poucas palavras, é celebrada de modo simples e breve.

A comunicação litúrgica da Missa possui uma estrutura própria que guia os celebrantes através de momentos de silêncio e reflexão, essenciais para uma profunda experiência espiritual. O ritmo acelerado, com muitos discursos e algumas vezes com pendulicários rituais, tende a distrair e desviar a atenção do verdadeiro propósito da Missa, que consiste no encontro com Jesus Cristo, reunido em assembleia fraterna.

Comunicação litúrgica 
É cada vez mais importante entender que a celebração da Missa é um ato de comunicação, onde o sacerdote, no exercício de seu ministério presidencial, e todos os ministérios litúrgicos que atuam no decorrer da celebração, exercem uma atividade comunicativa em contexto religioso e, por isso, em situação de estar em contato com o sagrado. Como dizia acima, não se trata de uma comunicação com linguagem de auditório, mas é uma comunicação mistagógica, religiosa e espiritual, que inicia e introduz os celebrantes dentro do Mistério celebrado.

Para que a comunicação seja eficaz, é necessário, acima de tudo, respeito para com a essência da celebração, que é o Mistério da Salvação, e respeito com os celebrantes que vêm com o propósito de ouvir a Palavra, rezar e adorar a Deus. Isto significa que a comunicação litúrgica jamais pode perder de vista que a Missa deve ser um momento de encontro com Deus, e não um entretenimento com motivações religiosas.

O papel da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP) 
Além do processo comunicativo litúrgico, adotando a linguagem litúrgica, outro papel importante compete à PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial. A PLP desempenha um papel importantíssimo na organização e funcionalidade das celebrações litúrgicas. Compete à PLP toda a atividade organizacional das celebrações. Ou seja, para que as celebrações sejam “bonitas”, a partir dos conceitos propostos acima, é preciso contar com uma organização, que é exercida pela PLP.

Nos meus dois cursos (PLP e Pastoral da Liturgia), faço a distinção de mostrar que a PLP realiza o trabalho no antes e no depois de cada celebração. No durante celebrativo, a atividade é por conta da Pastoral DA Liturgia. Este antes e depois é um trabalho que consta de reflexão (formação litúrgica), planejamento das atividades pastorais da Liturgia na paróquia e a organização das celebrações no decorrer do Ano Litúrgico. Isto em se tratando da Missa.

A Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP), portanto, não se limita a apenas organizar a escala de leitores e ministros, mas tem a finalidade de promover, de modo organizado e planejado, a experiência litúrgica que favoreça a santificação e o crescimento espiritual da comunidade. Para isso acontecer, a PLP deve estar enraizada na reflexão da Palavra de Deus e no Magistério da Igreja, garantindo que cada celebração seja uma verdadeira expressão da fé e uma experiência espiritual. No caso da Missa, é isso que torna a “Missa bonita”.

Concluindo 
A “Missa bonita”” não se encontra no espetáculo, mas na profundidade espiritual que ela proporciona. Uma “Missa bonita” é aquela que permite aos fiéis silenciar, rezar, refletir e encontrar-se com Deus. A Pastoral DA Liturgia, com a atuação das equipes de celebrações, tem a responsabilidade de criar esse ambiente de contemplação e oração, através de celebrações evangelizadas e evangelizadoras.

Sobre os dois cursos que mencionei, irei deixar um link para você conhecer cada um deles. No caso de optar por fazer os cursos, a sugestão é começar com o curso Pastoral da Liturgia, que é um curso introdutório ao curso da PLP.

Curso Pastoral da Liturgia — https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia

Curso da PLP — https://lp.liturgia.pro.br/plp1  

Serginho Valle 
Maio de 2024