Evangelizar na fragilidade

16 de Junho de 2012


Evangelizar na fragilidade
Um tempo para contemplar a evangelização a partir das celebrações litúrgicas. É assim que podemos descrever o mês de julho, num contexto de pedagogia litúrgica. Nos limites que as celebrações oferecem, em termos de reflexão, nossas propostas celebrativas contemplam duas dimensões importantes na vida do evangelizador e no processo evangelizador: a fragilidade humana e a ação divina.

 “É na fraqueza que sou forte”
Nosso primeiro encontro com a dimensão evangelizadora, no mês de julho, tem início na Solenidade de São Pedro e São Paulo, celebrada neste ano no 1º Domingo de julho. Dois gigantes na evangelização porque dedicaram suas vidas inteiramente ao Evangelho e a evangelizar os povos. Dispensemos comentários nesse sentido para nos concentrar na fragilidade humana, que Pedro e Paulo constataram em si, ao se depararem com a dimensão da obra que lhes tinha sido confiada por Jesus. A Palavra litúrgica os apresenta como presos, impedidos pelo poder social e político de evangelizar. Ambos sentiram, na pele, a fragilidade humana impedindo-os de evangelizar; contavam unicamente com o poder divino. Foi justamente que levou Paulo a reconhecer que quanto mais percebe em si a fragilidade humana, mais se sente fortalecido por Deus. Não evangeliza por conta própria, mas com e na força divina.
A evidência do poder divino e da fidelidade ao processo evangelizador emerge no momento da decepção, da indiferença, do desprezo para com o Evangelho. A fragilidade do pregador aparece quando percebe que aquilo que crê é desprezado e, em alguns casos ridicularizado pelos ouvintes. Tem uma mensagem poderosa para comunicar, mas fica impotente pela recusa dos ouvintes (14DTCB). É nesse momento, que precisa retomar a estrada, bater a poeira da sandália e seguir anunciando, sem medo de se decepcionar e de ser desprezado por outros ouvintes. A força do Senhor é mais forte que a decepção de não ser acolhido.
 
A missão evangelizadora é de Jesus
Depois do insucesso em Nazaré, Jesus continua pregando o Evangelho em outras cidades, pois foi para isso que veio ao mundo. É desse modo que Jesus define a finalidade de sua estadia entre nós, no mundo. A atividade evangelizadora, portanto, é uma missão confiada pelo Pai a Jesus. Missão que ele, por sua vez, confia a nós desde o primeiro envio evangelizador, quando mandou que seus discípulos fossem dois a dois anunciar o Evangelho (15DTCB). A missão de evangelizar, portanto, é de Jesus, e nós somos seus colaboradores.
Os Apóstolos foram e anunciaram o Evangelho, como Jesus havia ordenado. Depois voltaram. Jesus ouve o que contam, partilham juntos sucessos, decepções e percebe o cansaço. É outro aspecto da fragilidade humana, este que atinge as forças físicas. Por isso, é preciso descansar, mas descansar ao estilo de Jesus: num local deserto, cercado de silêncio, propício para mergulhar nas águas do Espírito (16DTCB). Foram de barco, mas o povo chegou antes. Também o povo estava cansado e parecia perdido como um rebanho que vaga sem pastor. Diante daquela cena, Jesus assume uma atitude indispensável na atividade evangelizadora: enche-se de compaixão e entre o seu descanso e o cansaço do povo, opta pelo povo e evangeliza.
Situação idêntica acontece no último Domingo de julho (17DTCB), quando a Liturgia começa a ler o Jo 6, para completar o Ano B, uma vez que o Evangelho de Marcos é muito breve. Inicia-se o discurso joanino com o simbolismo do pão. Mas, na nossa perspectiva evangelizadora, que perpassa todo mês de julho, deparamo-nos com o mesmo olhar compassivo de Jesus diante do povo faminto. Antes de evangelizar com palavras, evangeliza com atitudes e multiplica cinco pães e dois peixes, para que o povo coma à saciedade (17DTCB). Como evangelizador, Jesus recusa a proposta econômica de Felipe e assume a dinâmica da gratuidade e da partilha. Evangelizar não tem fins lucrativos e, se isso existir, podemos desconfiar que seja sincera e confiável.
 
Conclusão
As propostas celebrativas que estamos sugerindo para julho são iluminadas pela evangelização, primeiro porque a Palavra conduz a esse enfoque celebrativo e, depois, como preparação para o próximo Sínodo dos Bispos, que acontecerá no Vaticano, no mês de outubro, com o tema “Nova Evangelização no mundo de hoje.” Não se trata de uma nova mensagem, é claro, mas de considerar como evangelizar em nossos dias e isso encontramos ricamente na pedagogia dos Domingos de julho. Boas celebrações a todos.
Serginho Valle