Estamos à procura de Deus

26 de Dezembro de 2012


A Liturgia de Janeiro está dividida em duas partes. Na primeira, o Tempo de Natal, com a conclusão da Oitava de Natal, na Festa da Mãe de Deus, mais as celebrações epifânicas da Epifania e do Batismo do Senhor. Depois, na segunda parte, o início do Tempo Comum, na sua primeira parte, com as celebrações do 2º e do 3º Domingos do Tempo Comum – C. Neste contexto, duas luzes iluminam as celebrações de janeiro: a dimensão epifânica, com Jesus sendo manifestado ao mundo como Filho de Deus e, a presença da Palavra (Logos) como local de encontro com Deus em vista do discipulado.

Tempo de Natal 
A celebração que abre janeiro e o novo ano inicia-se com uma súplica em favor da paz, por intercessão da Virgem Maria, a Mãe de Deus: “Mostra-nos o teu Filho, o Príncipe da Paz, Mãe de Deus e Rainha da Paz!” Na celebração da solenidade de “Maria, Mãe de Deus”, diante da grande crise de valores que, cada vez mais coloca em risco a paz e a convivência fraterna em toda a terra, a Liturgia invoca a paz divina, reconhecendo ser ela a grande bênção divina que Deus derrama nos corações e na vida humana, através do Mistério da Encarnação. Maria, ao se tornar Mãe de Deus, acolhe a plenitude da paz divina como dom e como bênção, vivendo silenciosamente a presença divina em sua vida. Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro de 2013, Bento XVI convoca todos os cristãos e cristãs a serem promotores da paz.

O silêncio de Maria também é destacado na visita dos Reis Magos ao presépio, guardando e meditando tudo que via e ouvia, em seu coração. Mais que um exemplo, é um apelo propondo a meditação dos fatos como luz que ilumina o reconhecimento da ação divina entre nós. Depois de constatar que o mundo vive em trevas, Isaias insiste em anunciar que Deus é a única luz capaz de iluminar a vida humana e os relacionamentos entre todos os povos a partir da fraternidade. Assim como os Reis Magos, a Epifania convida a passar pelo Presépio para se deixar iluminar pela luz divina, para banhar-se na luz divina, e sair pelo mundo acendendo a luz de Deus em todas as partes.

Ainda no contexto da Epifania, enquanto manifestação de Jesus Cristo como Filho de Deus, celebramos em janeiro a festa do Batismo Senhor com a grande promessa de que seremos batizados no Espírito Santo. Seremos mergulhados no Espírito de Deus que nos divinizará e nos tornará construtores da paz e da fraternidade no mundo. O Batismo de Jesus é a última celebração do Natal e mantém uma estreita ligação com a Epifania, pelo fato de Jesus ser manifestado ao mundo, na profecia de João Batista e no testemunho da voz do Pai, que se fez ouvir. Nossa proposta celebrativa, que se inspira no “Ano da Fé”, propõe o Batismo como sinal da adesão pessoal a Jesus Cristo, pela fé, e o compromisso de viver na fé a quem se faz discípulo e discípula de Jesus.


Tempo Comum 
Uma vez concluído o Tempo de Natal, na 2ª feira seguinte tem início o Tempo Comum, com a celebração da 1ª semana do Tempo Comum. Por isso, não existe um 1º Domingo do Tempo Comum. As celebrações dominicais têm início a partir do 2º Domingo do Tempo Comum, no qual faz parte a terceira parte da Epifania, com Jesus realizando seu primeiro sinal, no dizer de João, manifestando-se como o Messias, aquele que vem transformar a vida humana em festa de vinho novo. Por isso, iniciamos o Tempo Comum ainda dentro do contexto teológico da Epifania do Senhor, com a manifestação da glória divina, nas Bodas de Caná. Maria pede que os servidores façam tudo que ele disser. Eles vão e buscam a água, que é transformada em vinho. Um claro incentivo para que levemos a Jesus aquilo que precisa ser transformado em nossas vidas. Outro destaque está em Paulo que, na 2ª leitura dessa celebração, descreve a diversidade dos ministérios. É com esse espírito que contextualizamos, em nossa proposta celebrativa, a nova evangelização, incentivando os ministros a assumirem seus ministérios de modo qualificado, para que o serviço evangelizador sirva a todos o vinho novo do Evangelho. 

Depois, como referido no início dessa reflexão, a partir do 3º Domingo do TC, o enfoque das celebrações passa a ser iluminado pelo protagonismo da Palavra de Deus na vida pessoal, na sociedade e, principalmente, na vida religiosa. Em todas as nossas celebrações litúrgicas nos reunimos ao redor do Livro Santo, antes de participar e comungar o Sacramento. Na celebração Eucarística, de modo mais específico, nos reunimos ao redor de duas Mesas: a Mesa da Palavra e a Mesa Eucarística. Cada uma das Mesas nos alimenta com a vida divina; em uma ouvimos como viver, noutra somos alimentados para viver o que ouvimos. Nossa proposta celebrativa está contextualizada no valor do Livro Sagrado como sacramento da presença de Jesus Cristo, que nos fala no nosso hoje.


Conclusão 
As celebrações de Janeiro se caracterizam em apresentar Jesus Cristo como Filho de Deus ao mundo; à toda a humanidade. Convidam todos os homens e mulheres de boa vontade a se aproximarem do Presépio, como fizeram os Reis Magos, para contemplar e aprender de Maria a meditar silenciosamente sobre os fatos, para neles perceber a ação divina. É da contemplação que as celebrações conduzem os celebrantes à ação, reconhecendo que foram batizados no Espírito Santo e são alimentados pelo vinho novo da Palavra de Deus que, através da Igreja, oferece abundantemente a todos os homens e mulheres.

Serginho Valle