Pedagogia de novembro 2016

29 de Outubro de 2016


Liturgia e vigilância
 
A Liturgia inicia o mês de Novembro propondo as realidades últimas; aquelas que ainda não conhecemos plenamente, mas que sabemos existir por terem sido reveladas por Jesus Cristo. É uma proposta, da parte da Liturgia, feita com serenidade, em clima de reflexão e de oração, convidando cada celebrante a cultivar em sua vida a vigilância.
 
A vigilância é uma virtude cristã que nos deixa sempre preparados para o encontro do Senhor. Não nos deixa prevenidos, mas preparados, como ensina Jesus na parábola das virgens prudentes (Mt 25,1-3). Nos dias e nos anos que bondosamente recebemos de Deus para viver, corremos o risco da distração devido aos muitos apelos, nem todos saudáveis, capazes de comprometer a espiritualidade de um discípulo e discípula de Jesus. Por isso, a importância da vigilância na vida cristã. É cultivando a virtude da vigilância que fortalecemos a fé, a confiança e a esperança na vida futura. Neste sentido, o cristão crê que a morte não é a última palavra para quem coloca sua vida nas mãos de Deus, para quem vive no temor de Deus todos os momentos da sua vida. A virtude da vigilância, na celebração dos Fiéis Defuntos, tem a função de acender a esperança nos celebrantes, incentivando-os a superar todas as adversidades da peregrinação existencial, especialmente o medo da morte. A esperança, neste caso, aparece com uma promessa concreta: Jesus promete que preparou um lugar para cada um de nós. Viver na vigilância, portanto, para não perder o lugar que Jesus preparou para cada um de nós.
 
Além de relacionar vigilância cristã com o viver preparado para o encontro com o Senhor, a virtude da vigilância, presente na Liturgia, tem a ver com a busca da santidade. É pela vigilância cristã que o desejo da santidade vive em nós como um incentivo perene para não nos perder nos atrativos do mundo. Ser santo é viver é Deus e, para isso, a necessidade de jamais se deixar contaminar pelas propostas mundanistas, como celebrado na comemoração de “Todos os Santos Santas”. É buscando a santidade para nossas vidas que nos deparamos com o apelo mais forte em favor da vigilância, na Liturgia: tudo passa, tudo passará, somente Deus permanece. Buscar a santidade de modo vigilante, não se distraindo e, principalmente, não se envolvendo com os atrativos do mundo.
 
É com este espírito e neste clima que a Liturgia celebra seus últimos Domingos do Tempo Comum. Um clima com a finalidade de abrir os olhos dos celebrantes para viver na vigilância, porque nada do que existe no mundo continuará para sempre. Assim, a Palavra do 33DTC-C incentiva o fortalecimento da esperança no Senhor. Ora, isto acontece pelo cultivo da vigilância, prontos para não ceder aos apelos do mundo. Um apelo que une vigilância e perseverança na fé. Um apelo que se relaciona a outra virtude, sempre necessitada para nossas vidas: o discernimento. Sem o discernimento, a vigilância nos torna reprimidos e prisioneiros de medos.
 
 
Cristo Rei – Conclusão do Ano Santo da Misericórdia
Na conclusão do Ano Santo da Misericórdia, que acontece na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, a vigilância é reforçada, fortalecida, melhor dizendo, na medida que somos capazes de contemplar o amor misericordioso de Deus, manifestado em Jesus Cristo, especialmente em sua Cruz, a fonte da misericórdia divina que resgata a humanidade inteira. É uma celebração para agradecer a conclusão do Ano Santo da Misericórdia e para louvar a misericórdia divina derramada sobre o mundo, do alto da Cruz.
 
 
Viver na vigilância para não viver a fé na indiferença
Por fim, a título de conclusão, o início de um novo Ano Litúrgico convida a olhar a realidade da vida e dos relacionamentos sociais de modo diferenciado, com o olhar da fé e o olhar da esperança. Quem vive na vigilância não olha o mundo e a sociedade com desconfiança e com julgamentos, mas se motiva ao empenho de mudar a situação para melhor. É o que celebramos no 1º Domingo do Advento, no início de um novo Ano Litúrgico.
 
A vigilância ajuda-nos a não se estacionar nos acontecimentos que se veem com os olhos do rosto, mas lançar um olhar além, para ver o modo como Deus vê a realidade do mundo, como ele age e como se comunica conosco através dos sinais. O viver vigilante — o grande convite deste 1º Domingo do Advento — é não permitir que o ordinário da vida (nossas rotinas) apague as luzes da fé e da esperança de nossos olhos, tornando-nos indiferentes. Cada momento da vida, por mais ordinário e rotineiro que seja, pode ser momento do encontro com o Senhor.
Serginho Valle