Liturgia e a restauração da vida divina no homem e na mulher
06 de Outubro de 2018
Liturgia e a restauração da vida na divina vida humana
Depois de nos servir deste espaço, durante alguns meses, para refletir sobre a importância do serviço da Pastoral Litúrgica Paroquial na formação cristã da comunidade, retomamos a finalidade da pedagogia litúrgica, ou seja, considerando o processo pedagógico litúrgico nas celebrações do mês. Quem desejar reler ou trabalhar em grupo as reflexões sobre a atividade formativa da Pastoral Litúrgica Paroquial terá acesso aos textos em nosso blogger = http://liturgiasal.blogspot.com/
Introduzindo
Outubro é considerado mês missionário, mês dedicado às missões. A pedagogia litúrgica do mês de outubro conduz os celebrantes à missão de restaurar vidas perdidas em tantos contextos existenciais de nossos dias. O verbo restaurar — "Em Jesus, com Maria, restauramos a vida" — está no tema da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, que celebra os 40 anos da restauração da imagem, depois de danificada. Um convite para restaurar a imagem divina na pessoa humana, restaurar a imagem divina naquelas vidas que perderam o brilho da vida, em quem teve sua vida apagada ou deteriorada. Restaurar a vida é um processo dinâmico que protege de todo tipo de paralisia existencial. É uma proposta cristã que se inspira na Teologia da Encarnação, de Jesus que veio ao mundo para restaurar a nossa imagem e a nossa semelhança a Deus, danificada pelo pecado.
Propostas de restauração nas celebrações de outubro 2018
As celebrações apresentam quatro espaços restauradores. O primeiro deles é a família. A restauração da vida a partir da família, fonte da vida humana. Num contexto social que tanto deteriora a imagem divina, a família é o local amoroso mais apropriado para iniciar a restauração da vida humana. O tema da família como local restaurador da vida pelo amor encontra-se na celebração do 27DTC-B. A Palavra deste Domingo celebra o Matrimônio como sacramento gerador da vida, fonte da vida. É, portanto, o espaço apropriado para se iniciar o diálogo amoroso em favor da vida; diálogo gerador de mais vida, porque a geração da vida não se limita ao nascimento, mas ao crescimento existencial propondo vida de qualidade, vida digna. A missão da família como local, como espaço, no qual a vida pessoal de tantas pessoas possa ser restaurada. Igualmente, a família como local da restauração da vida social, criando um processo educativo em vista de relacionamentos sociais saudáveis a favor da vida.
A segunda proposta de restauração encontra-se no 28DTC-B. O Evangelho narra o encontro de Jesus com o jovem rico e propõe que ele restaure sua vida a partir do desapego dos bens materiais, especialmente do dinheiro. O jovem não aceitou. A sociedade tem dificuldade de aceitar a proposta que a restauração social tem início no desapego dos bens materiais, para que o dinheiro deixe de ocupar o lugar de Deus na vida pessoal e na sociedade. É uma missão difícil, esta de propor ao mundo a centralidade de Deus e não do dinheiro. Existe uma crença que sem dinheiro não se vive e, explica a Psicologia, a crença proporciona o medo de perder a ponto de criar impedimentos de vida livre. Jesus não fala em não ter dinheiro; destaca a importância de partilhar, repartir, de oferecer o necessário para restaurar a vida de quem vive na pobreza e, ainda mais, na miséria das periferias sociais.
Outra proposta de restauração da vida encontra-se na solidariedade para com quem está sofrendo, quem vive em qualquer tipo de sofrimento, espiritual, emocional ou corporal. No 29DTC-B, a Palavra convida os celebrantes a considerar o sofrimento na vida humana. Dada a nossa condição humana, o sofrimento é inevitável e, infelizmente, nem sempre é confrontando com serenidade, de onde estragos e, até mesmo, destruições de vidas por causa do sofrimento. O ensinamento de Jesus conduz à atitude de solidariedade e, neste caso, está-se falando de serviço. Trata-se do serviço voluntário, do serviço em favor da vida, de serviço dedicado a resgatar e restaurar vida danificada pelo sofrimento. O sofrimento sempre deixa alguma marca, alguma consequência que, igualmente, é sempre possível restaurar. Quando o sofrimento atinge o corpo, a cicatriz, grande ou pequena, poderá ser visível, como também, poderá tornar-se porta para restaurar a vida interior, ajudar no crescimento espiritual, fortalecimento para lidar com qualquer tipo de deficiência. São Francisco de Assis, que celebramos neste mês tem em sua biografia este fato.
Por fim, a última proposta missionária para restaurar a vida encontra-se no 30DTC-B, na comovente cura de Bartimeu, o cego que mendigava vida à beira do caminho. Jesus passa e restitui a luz de seus olhos e ele caminha na estrada de Jesus, no discipulado. O discipulado como iluminação existencial e como restauração da vida. O discipulado como iluminação com a luz de Jesus para caminhar na estrada do Evangelho. A evangelização, não como proselitismo, dizia Bento XVI, e repetido por Francisco, mas como processo restaurador da vida, iluminador da vida. A luz de Jesus Cristo, pelo Evangelho, não como doutrina, mas como estilo de vida. A missão evangelizadora não é para doutrinar, mas para acender a luz de Jesus Cristo, luz que favorece enxergar a realidade existencial com o olhar de Jesus.
Concluindo
Estamos com um projeto pedagógico litúrgico muito rico para ser trabalhado em nossas comunidades, no decorrer deste mês de outubro de 2018. É a bela proposta de considerar a Liturgia como pedagoga, como mestra que ensina, que propõe caminhos, que indica atitudes em favor da restauração da vida. Quanto mais compreendermos esta dinâmica pedagógica da Liturgia, tanto mais nossos celebrantes deixarão de ser, apenas, cristãos para se tornarem cristãos discípulos, cristãs discípulas do Mestre Jesus.
(Serginho Valle)
Setembro de 2018