Pedagogia mistagógica de AGOSTO 2023

01 de Agosto de 2023


Pedagogia mistagógica de AGOSTO 2023


A VOCAÇÃO CRISTÃ

O mês temático de agosto, proposto pela CNBB para rezar e refletir sobre as vocações, neste ano de 2023, é celebrado dentro do “Ano Vocacional”. Nas propostas celebrativas do SAL, consideramos ser o “Mês Vocacional” dentro do “Ano Vocacional”, adotando, inclusvive o lema e o tema do Ano Vocacional: “Vocação: graça e missão” e, “Corações ardentes, pés no caminho”. Tanto o lema como o tema aparecem em todas as celebrações e é mencionado em uma intenção da oração dos fiéis.

É importante lembrar que o “Mês Vocacional” não se sobrepõe à Liturgia, mas a Liturgia poderá se servir da proposta pastoral deste mês para ajudar os celebrantes a entrar em contato com o tema vocacional na Igreja. Por isso, a finalidade do “Mês Vocacional” não é estabelecer datas comemorativas, mas momento para refletir e rezar pelas vocações na Igreja.


A vocação cristã na Igreja

Na vida cristã, existe somente uma vocação: seguir Jesus Cristo. Todos os cristãos e cristãs são vocacionados ao seguimento de Jesus Cristo. O que muda é o modo como cada cristã e cristã segue o Senhor, o que muda é o estado de vida (estilo) com o qual cada cristão e cristã segue o Mestre. Muitos o seguem na vocação matrimonial, outros na vocação sacerdotal, outros seguem o Senhor na vida religiosa e consagrada e, em vários casos, o seguimento acontece pela vida celibatária.

Em tal contexto, como referido acima, as celebrações do mês de agosto 2023 são iluminadas pela espiritualidade mistagógica da “vocação cristã”. Na dinâmica mistagógica, isto significa que cada celebração irá propor e convidar os celebrantes a fortalecer sua opção vocacional ou, se for o caso, escolher seu próprio caminho vocacional a partir da Palavra proclamada em cada celebração dominical, do mês de agosto 2023, em modo mistagógico.

O mês de agosto celebra quatro Domingos que, no contexto da pedagogia mistagógica proposto pelo SAL, assim serão iluminados:

 

Transfiguração do Senhor = Oração e contemplação, fonte da vocação cristã

19º Domingo do TC - A = O componente humano do medo na vocação

Assunção de Nossa Senhora = Maria: exemplo de resposta vocacional

21º Domingo do TC - A = Vocação e ministérios


Para quem se preocupa com tematização nas celebrações, lembro que cada Domingo celebra a Eucaristia iluminando-se pela Palavra de Deus, sempre contém uma dinâmica vocacional realizada em modo de envio. Nas celebrações, a Palavra de Deus é sempre vocacional, sempre convocadora (com+vocare) para ser respondida em modo ministerial, em forma de serviço a favor da vida na comunidade e em toda a sociedade.

É em tal contexto que as propostas celebrativas do SAL, para o mês de agosto 2023, colocam-nos diante da espiritualidade da vocação cristã que se alimenta com a oração contemplativa (Transfiguração do Senhor), com o fortalecimento da fé diante do medo (19DTC-A), com a renovação da disponibilidade de servir na caridade fraterna (Assunção) e com a necessidade de transformar o chamado em serviço concreto assumindo a responsabilidade de um ministério eclesial (21DTC-A).

Como se percebe, estamos diante de quatro temas (elementos, se preferir) que fundamentam a vocação cristã do seguimento a Jesus Cristo em diferentes estilos de vida: oração (Transfiguração), fé (19DTC-A), caridade (Assunção) e  ministerialidade (21DTC-A). Isto é também indicativo que os dois primeiros Domingos de agosto 2023 propõem a resposta vocacional a partir da convivência com Jesus e, os dois últimos Domingos de agosto 2023 propõem a vocação como convivência fraterna através da ministerialidade, através do serviço fraterno.


Mistagogia vocacional

Conviver com o Senhor nos dois primeiros Domingos do mês de agosto 2023

A mistagogia vocacional, conduzida pela espiritualidade litúrgica, nas celebrações de agosto de 2023, consideram que o primeiro passo na resposta vocacional, acontece pela aceitação do convite de Jesus para estar com ele no Tabor e contemplar a sua glória. Naquele dia da Transfiguração, Jesus vocacionou três Apóstolos: Pedro, Tiago e João para contemplar a glória divina em Jesus (2L e E – Transfiguração). Foi uma experiência profunda que determinou a fidelidade vocacional daqueles Apóstolos até o fim de suas vidas. A celebração da Transfiguração do Senhor, portanto, convida os celebrantes a considerar a vocação como convite para deixar a planície da vida rotineira, subir com o Senhor até locais favorecedores da oração contemplativa e se deixar envolver pela glória divina.

Não existe resposta vocacional sincera enquanto o vocacionado não se colocar em oração, que seja tão profunda e envolvente quanto é a oração contemplativa. Vocação cristã não é uma profissão, é um estilo de vida, um modo de viver que necessita da oração silenciosa e contemplativa, a ponto de sentir a mesma paz interior que sentiu Pedro por estar diante do Senhor e concluir: “é bom estar aqui” (E – Transfiguração). Vocacção acertada repete a mesma conclusão de Pedro: “é bom estar aqui, vivendo a resposta vocacional com o Senhor”.

O segundo tema, na mistagogia das celebrações de agosto 2023, é o compromente humano do medo (19DTC-A). Se a vocação cristã é graça divina, esta graça pode não ser correspondida por causa do medo, manifestando-se em diferentes formas e com diferentes mecanismos de defesa: insegurança, covardia, apatia, descuido... O medo sempre está presente quando nos sentimos diante de uma decisão definitiva da vida pessoal. Hoje, o medo na vocação aparece muito pela mentalidade da tentativa: “a gente tenta, se não der certo, separa”. É a imagem do “homem fraco na fé”, como Jesus caracteriza Pedro, que “tenta” caminhar sobre as águas, mas com medo de afundar nas águas do lago em tempestade, desiste de ir ao encontro de Jesus (E – 19DTC-A).

Fraqueza na fé gera dúvida. Na vocação cristã, em qualquer modo de resposta vocacional, a dúvida é o risco do afundamento pela falta de fidelidade. A imagem de Jesus chamando Pedro é uma cena muito expressiva, vocacionalmente falando. Jesus não chama Pedro, nem nós, para caminhar em estradas seguras, como algumas propagandas vocacionais, em tom de marketing, sugerem. Jesus vocaciona a caminhar ao encontro dele com fé, mas isso não é garantia de estradas seguras. Se faltar a fé, a pessoa afunda com sua vocação. Fé significa caminhar na vocação com fidelidade. No 19DTC-A, dedicado à vocação familiar, a vocação matrimonial é construída na fidelidade, especialmente quando se é convidado a caminhar em veredas pouco seguras.

Você pergunta: existe alguma condição de segurança na vocação? Sim, convidar Jesus para entrar na barca da nossa vida (19DTC-A). Com Jesus na barca, as tempestadas e agitações promotoras de medos desaparecem. Viver a vocação com Jesus, na fé, é a segurança que gera fidelidade, mesmo quando ao lado do barco a vida oferece riscos.


Conviver fraternalmente com os irmãos, nos dois últimos Domingos

Se nos dois primeiros Domingos, o apelo vocacional direciona os celebrantes a conviver com o Senhor, na oração contemplativa (Transfiguração) e na barca da vida (19DTC-A), os dois últimos Domingos de agosto 2023 fazem os celebrantes compreender que a resposta vocacional conduz a conviver fraternalmente com os irmãos e as irmãs em modo ministerial, pelo serviço. É uma decorrência da convivência com o Senhor. Quem convive com Deus, como acontece com Maria, coloca-se a serviço do irmão e da irmã (Assunção), é convidado a acolher um ministério na comunidade (21DTC-A).

O chamado vocacional de Maria acontece no momento da Encarnação de Jesus Cristo no seu seio; Maria torna-se grávida de Jesus por obra do Espírito Santo (Lc 1,35). Torna-se grávida do Evangelho divino — da Boa Nova da Salvação — e sua primeira reação é colocar-se a caminho para se fazer fraternalmente próxima de Isabel, necessitada da sua ajuda (E – Anunciação). Antes de fazer o caminho para o céu, na sua Assunção, Maria vive  sua vocação colocando-se a serviço de Isabel. Compreende-se que a realização vocacional consiste em participar do projeto divino pelo relacionamento fraterno.

O mesmo acontece em nível de comunidade: toda vocação sempre vem acompanhada de um serviço, sempre se é vocacionado para um serviço, para um ministério dentro da comunidade em favor da vida das pessoas que vivem na comunidade. A Palavra do 21DTC-A usa o símbolo da chaves, não simbolizando poder, mas serviço de administrar os bens do “rei” para o bem do povo. A realização vocacional, como dizia, sempre acontece quando se está a serviço do povo; em atitude ministerial. Compreende-se muito facilmente que a vocação, o chamado divino, não outorga títulos, mas ministério; em vez de títulos oferece um serviço a favor da vida do povo.


Conclusão

As celebrações do “Mês Vocacional”, dentro do “Ano Vocacional de 2023”, na pedagogia mistagógica do SAL, favorecem propor a vocação em dois momentos bem claros e consequentes: a vocação é um chamado divino que atrai ao encontro de Deus (Transfiguração e 19DTC-A) e, uma fez que acontece a experiência vocacional do encontro com Deus, a vocação realiza-se pelo serviço (ministerialidade) prestado a favor da vida de irmãos e irmãs na comunidade eclesial e na sociedade (Assunção e 21DTC-A).

Pela espiritualidade vocacional, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora é a realização plena de toda vocação cristã, que consiste no chamado à santidade. A Virgem Mãe do Senhor é o protótipo da vocação cristã: nascemos para viver eternamente junto de Deus, participando da santidade divina. Mas, antes de lá chegar, como bem expressa a Palavra da Solenidade da Assunção, é preciso caminhar na direção de “Isabel” e se colocar a serviço da vida cantando o reconhecimento da ação de graças como “Magnificat anima mea” (Lc 1,49), pois o Senhor realiza maravilhas na vida de quem responde ao seu chamado para colocar-se a serviço do projeto divino através da serviço gratuitamente fraterno, como se caracteriza todo ministério no contexto eclesial.

Serginho Valle 
Julho de 2023