Pedagogia mistagógica de setembro 2023
01 de Setembro de 2023
“Relacionamento cristão”
Celebrações do SAL em SETEMBRO 2023
A pedagogia mistagógica de setembro 2023, nas propostas celebrativas do SAL – Serviço de Animação Litúrgica, considera o tema do “RELACIONAMENTO” na vida cristã ou, dizendo de um modo mais direcionado, o relacionamento cristão com a sociedade e o relacionamento cristão pessoal com pessoas que fazem parte da nossa convivência.
Seja na Sociologia, mas especialmente na Psicologia Social, vários autores definem “o homem e a mulher como seres, essencialmente, em relação”. Em tal compreensão, a vida é um contínuo exercício de relacionamentos, seja em estruturas sociais, seja em contato com pessoas e com situações existenciais.
O modo cristão de se relacionar é iluminado pela luz do Evangelho, por isso, o cristão se relaciona com a sociedade testemunhando o Evangelho pelo seu modo de viver (22DTC-A). O relacionamento do cristão e da cristã é marcado pela fraternidade que, misericordiosamente, corrige quem erra (23DTC-A) e perdoa quem o ofendeu (24DTC-A). Além dos três aspectos relacionais envolvendo pessoas, o último Domingo de setembro 2023 propõe o relacionamento com a vinha do Senhor plantada na paróquia onde vive ou onde frequenta (25DTC-A).
O tema do “relacionamento cristão”, presente na pedagogia mistagógica do SAL para as propostas de setembro 2023, além das celebrações, encontra uma bela inspiração no convite feito pelo tema do “Mês da Bíblia”: "Vestir-se da nova humanidade! (cf. Ef 4,24)". Nova humanidade que seja capaz de pensar com os pensamentos de Deus (1L - 25DTC-A), capaz de fraternalmente corrigir quem se desvia do caminho do bem (23DTC-A), capaz de perdoar as ofensas (24DTC-A) e capaz de se dedicar ao cultivo da vinha do Senhor plantada na paróquia (25DTC-A).
Dito isto, compreende-se que uma finalidade do processo mistagógico, presente nas celebrações de setembro 2023, consiste em conduzir cada celebrante a tomar contato com o modo como se relaciona com as pessoas, com a sociedade, com sua família, com a sua comunidade paroquial. — O modo como nos relacionamos com determinadas situações sociais, com as pessoas, com nossas famílias, com nosso ambiente de trabalho, nas universidades, nas escolas, em clubes... em todos os lugares, é um relacionamento cristão? O nosso relacionamento, em todos os setores da vida, é realizado com a marca de um relacionamento cristão?
— Mas, afinal de contas, o que fundamenta e quais elementos devem ser considerados em se tratando de relacionamento cristão?
Características do relacionamento cristão
O relacionamento cristão é fundamentado nos princípios do amor, da misericórdia e do respeito. Baseado nos ensinamentos de Jesus Cristo, o amor é o alicerce que fundamenta todos os relacionamentos humanos, especialmente os relacionamentos cristãos. Quando alguém não se sente amado, entra em conflito consigo e com os outros, entra em atitude de isolamento, atitude que que não caracterizam a vida cristã, que é tipicamente relacional; comunitariamente relacional, servindo-se um pleonasmo. Basta considerar o modo de viver de Jesus, sempre vivendo em comunidade e se relacionando com todos de modo amoroso, misericordioso e respeitoso.
O amor é o fundamento do relacionamento
Quando se propõe o amor como fundamento dos relacionamentos interpessoais e com a sociedade, compreende-se que o cristão se relaciona de modo honesto e sincero com todas as pessoas. É com relacionamentos marcados pela sinceridade que o cristão e a cristã podem testemunhar profeticamente o Evangelho com parresia (22DTC-A), compreender quem errou (23DTC-A), oferecer o perdão a quem o ofedeu (24DTC-A) e se dispor a trabalhar cultivando a vinha do Senhor plantada na paróquia (25DTC-A).
Um critério para avaliar o relacionamento cristão encontra-se na gratidão, reconhecendo em cada relacionamento uma bênção de Deus. Acolher e se relacionar com outro como momento de bênção divina é um modo profundo e fraterno de compreender o que diz São Paulo: não dever nada a ninguém a não ser o amor mútuo (2L do 23DTC-A). O relacionamento cristão, fundamentado no amor, é livre de egoísmo, por issa busca sempre o bem do outro, como acontece na dinâmica da correção fraterna (23DTC-A) e na dinâmica fraterna e misericordiosa do perdão (24DTC-A).
Respeitar o outro em todas as circunstâncias
O relacionamento cristão sempre acontece com atitudes de boa educação, mas vai além de ser, apenas, educado no relacionamento. É educado e diferenciado no modo de se relacionar porque marca seus relacionametnos pelo respeito, mesmo quando o outro não aceita o testemunho do Evangelho (22DTC-A), quando o outro caminha com sua vida em estradas equivocadas (23DTC-A), quando o outro agride com ofensas (24DTC-A). Respeito igualmente por aqueles que vivem na ociosidade de não se comprometer com a vinha do Senhor (25DTC-A). O relacionamento cristão não se caracteriza pelo confronto, mas amorosamente respeita quem pensa e age diferente, sem deixar de propor o Evangelho.
São Paulo indica a necessidade de não se deixar levar pelas profecias do mundo, mas em se relacionar com o mundo, com o modo como o mundo pensa tendo o Evangelho na mão; iluminando-se com a luz do Evangelho (2L do 22DTC-A). Testemunhar o Evangelho, no relacionamento com a vida social com um novo modo de pensar, promovendo a busca da harmonia e da paz, evitando discórdias desnecessárias e constituindo-se como profeta e construtor da paz e da reconciliação, atitudes próprias de quem foi seduzido pelo Senhor (1L do 22DTC-A).
Paciência com o outro
Outro elemento importante no relacionamento cristão é a paciência. Trata-se de cultivar a paciência, do ponto de vista psicológico e espiritual, entendendo que cada pessoa está em um processo contínuo de amadurecimento e aprendizado. Capaz de ser paciente com o erro do outro (23DTC-A), ter um relacionamento paciente com o ofensor (23DTC-A). Ser paciente com quem não acolhe e não aceita meu testemunho evangelizador (22DTC-A) e ser paciente com quem passa o dia na ociosidade, quando todas as constações indicam que poderia dedicar algum tempo para trabalhar na vinha do Senhor plantada na paróquia (25DTC-A).
O relacionamento cristão marcado pela paciência exige humildade, reconhecendo que o outro, que erra ou ofende, é um ser humano falível que pode estar passando por um tempo de dificuldade, de provação, de depressão ou outro tipo de crise, ou até mesmo, ser incapaz de perceber o sentido da vida a partir do Evangelho. É o que se denomina como respeito pelas diferenças, entendendo que cada pessoa tem suas particularidades e modos diferentes de entrar em contato com situações existenciais.
Conclusão
Os Domingos de setembro 2023 propõem que o relacionamento da vida cristã com a vida social, com a sociedade, exige a coragem de profetizar e testemunhar o Evangelho com parresia, assumindo existencialmente o projeto divino proposto no Evangelho (22DTC-A). A dificuldade de testemunhar com atitudes e com palavras — com parresia — o Evangelho no relacionamento com a sociedade sempre foi e continua sendo um desafio a todos os discípulos e discípulas de Jesus.
Depois, serão dois Domingos (23DTC-A – 24DTC-A) voltados para o relacionamento pessoal com o outro. Em ambos os Domingos, o convite para relacionamentos fraternos, especialmente quando as circunstâncias existenciais promovem erros, pecados, desvios de conduta... A Liturgia chama atenção para a responsabilidade fraterna para com quem erra, iluminando a correção com a mentalidade do Evangelho (23DTC-A). Corrigir quem erra é uma obra de misericórdia, como perdoar quem ofendeu é um relacionamento cristão marcado pelo processo de acolher e favorecer os frutos do perdão na vida pessoal e na vida do ofensor (24DTC-A).
Por fim, o último Domingo de setembro 2023, propõe o relacionamento com a comunidade onde vivem os celebrantes. A Liturgia do 25DTC-A diz que a paróquia não é a praça dos desocupados, é a vinha do Senhor a ser cultiva com o mesmo pensamento e a mesma lógica divina, sinalizada pela gratuidade e não pela retribuição e nem pela busca de privilégios para o bem de toda a comunidade.
Serginho Valle
Julho 2023